"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."

Agostinho de Hipona



quarta-feira, 3 de março de 2010

AS CITAÇÕES DOS APÓCRIFOS NO LIVRO CANÔNICO DE JUDAS

Judas, verso 9.
Contudo, o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo e disputava a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a proferir juízo infamatório contra ele; pelo contrário, disse: O Senhor te repreenda.”
Judas, verso 14.
Quando a estes foi que também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades.”

A informação do verso 9 está no livro apócrifo, perdido, “Ascensão de Moisés”; a do verso 14 encontra-se no também apócrifo “Livro de Enoque”, do qual nos chegou aproximadamente um terço. Ambos foram produzidos no início do primeiro século por escritores judeus que tomaram emprestados nomes de patriarcas, numa tentativa de dar credibilidade a suas respectivas seitas heréticas.

ESTUDO
I. Suposições
1ª As informações não foram tiradas dos apócrifos;
2ª As informações foram tiradas dos apócrifos.

II. Argumentos
Considerando-se a 2ª suposição, surge aparente discrepância quando afirmamos que os apócrifos, genericamente considerados, nunca são citados no Novo Testamento como base doutrinária, e assim é. Nem os Evangelhos, nem as Cartas, nem o Apocalipse citam apócrifos como fundamento de Doutrina, como o fazem com frequência em relação aos textos canônicos do Velho Testamento.
Informações verdadeiras contidas em livros apócrifos e outras fontes extra-bíblicas são citadas ou aludidas em livros canônicos com objetivos bem diversos da formação de base doutrinária.
Então os apócrifos contém informações verdadeiras? Sim. Uma de suas características é precisamente a mistura de verdade com falsidade, heresia e suposição. Por isso não passaram pelo crivo da canonicidade. São cheios de “fábulas e blasfêmias”, no dizer de Agostinho, ou são “escritos dos hereges”, como registrou S. Jerônimo.

III. Os Teólogos
A respeito do verso 9 diz Norman Geisler: “somente porque o episódio não é encontrado em nenhuma passagem das Escrituras, não significa que o evento não tenha ocorrido.”
Sobre os versos 14 e 15 ouçamos Merril F. Unger: “Essa profecia, preservada como tradição no livro não canônico de Enoque é aqui revelada pelo Espírito Santo como verdade divina”.

IV. Os fatos
      1.  Em Mateus 23.5, Jesus disse a respeito dos fariseus: “...alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas.”
Filactério é a transliteração de uma palavra grega que não está em nenhum texto do Velho Testamento e sim em um Midraxe, que são crônicas judaicas escritas nos quatro primeiros séculos antes de Cristo.
Jesus, assim, citou um texto extra-bíblico, conhecido de todos, para ilustrar e reforçar sua inprecação contra os fariseus.

      1. Em Atos 17.28, Paulo diz: "...pois nele nos movemos e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito...”
Paulo está citando o poeta grego do século IV a.C Arato, em seu poema Fenômenos.

      1. Em I Coríntios 10.4, Paulo diz: “e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo.
A informação de que a pedra era Cristo não está no Velho Testamento e sim no midraxe rabino sobre a Rocha, onde se interpreta que a rocha era o Messias. Paulo, com autoridade muito superior à do midraxe, declarou, por revelação, que a pedra é Cristo.

      1. Em Tito 1.12, Paulo diz: “Foi mesmo entre eles, um seu profeta, que disse: Cretences, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos.”
Esse trecho não está no Velho Testamento, pois é do conhecido poeta e sábio grego Epimêndes, do século VI a.C., que era tido também como um profeta.

V. Conclusões
  1. A Bíblia, sendo a Palavra de Deus ao homem, registra, para que o homem distinga a vontade divina, palavras de homens sábios e estultos, de demônios e de uma jumenta.
  2. Jesus, em suas conversas com os homens, tanto em público como em particular, citava, além do VT, ditados, apotégmas e aforismos que estavam na boca do povo, proveniente de diversas fontes e convalidou preceitos anteriormente ditos por Buda e Confúcio.
  3. A epístola de Judas foi integrada ao cânon do NT devido, principalmente a dois critérios: primeiro o da apostolicidade, pois procede do ambiente apostólico; segundo, o critério da evidência interna, pois guarda unidade absoluta com a doutrina bíblica, de Gênesis à Apocalipse.

AUTOR: NEEMIAS C. MIRANDA

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