"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."

Agostinho de Hipona



sexta-feira, 30 de julho de 2010

Zelo sem perder o amor

Por Maurício Jordão

“Lembraram-se os discípulos de que está escrito,: O zelo da tua casa me consumirá” (Jô 2.17; cf. Sl 69.9)

Não há nada inerentemente errado com o zelo. Lembrem-se de que o próprio Jesus Cristo fez um chicote e livrou o templo de seus comerciantes. E quando isso aconteceu, deu-se o que está escrito no texto em epígrafe. Alguns atos de Jesus nos ajudam a alimentarmos esse zelo, como quando o Senhor repreendeu os líderes judeus, quando amaldiçoou as cidades de Corazim e Betsaida e quando confrontou e destruiu poderes demoníacos. O zelo é uma virtude quando é, verdadeiramente, zelo pela justiça.

No entanto, por vezes o zelo fica aquém da justiça. O zelo sem sabedoria é perigoso. O zelo misturado à insensibilidade é cruel. Sempre que transforma-se em cólera desenfreada, pode ser mortal. E em certas ocasiões nos deixamos dominar por tal zelo mal empregado. 

Os Apóstolos Tiago e João ficaram conhecidos com Filhos do Trovão. Certa feita, Jesus estava se preparando para passar por Samaria. Dirigia-se a Jerusalém para última páscoa. Para tanto, “...enviou mensageiros que o antecedessem. Indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos para lhe preparar pousada. Mas não o receberam, porque o aspecto dele era de quem, decisivamente, ia para Jerusalém” (Lucas 51-53). Os samaritanos não apenas odiavam os judeus, como também odiavam o culto que se realizava em Jerusalém.

O problema não era a falta de espaço para eles na hospedaria; o problema era a falta de hospitalidade intencional dos samaritanos. Jesus jamais havia demonstrado outra coisa senão boa vontade para com os samaritanos. Ele havia curado um samaritano de sua lepra e elogiado esse homem por sua gratidão (Lc 17.16). Ele havia aceitado água de uma mulher samaritana e dado a ela água viva (Jo 4.7-29). Ele ficou dois dias na vila, evangelizando os vizinhos dela. Ele havia transformado um samaritano em herói numa de suas parábolas mais conhecidas (Lc 10.30-37). Mais tarde iria ordenar aos discípulos que pregassem o evangelho em Samaria (At 1.8). Jesus sempre usara de boa vontade para com os Samaritanos.

No entanto, eles o estavam tratando com desprezo propositado. Fato que levou Tiago e João, os Filhos do Trovão, encherem-se imediatamente da mais intensa cólera na tentativa de retificar a situação e disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu par os consumir?” (Lc 9.54). Eles conheciam o Antigo Testamento e se reportaram ao que Elias havia feito. Durante o reinado de Acabe, no tempo de Elias, Samaria havia se transformado num centro de adoração a Baal (1 Reis 16.32 e 2 Reis 1.3-12).

Aquela não era a reação correta para Tiago e João. Sua motivação era errada. Ouve-se um tom de arrogância na maneira como fizeram a pergunta em questão “Senhor. Queres que [nós] mandemos descer fogo do céu para os  consumir?” Eles não tinham definitivamente poder para isso. Cristo era o único com tal poder e se fosse o caso, Ele mesmo o teria feito. Tiago e João estavam, com efeito, pedindo a Jesus que os capacitasse a fazer aquilo que Ele próprio não faria. Além disso, a missão de Jesus era diferente da missão de Elias, Cristo veio para salvar e não para destruir.          

É evidente que não devemos dar sempre uma abordagem puramente pacífica para todos os conflitos. Elias fez o que fez para a glória de Deus e com Sua permissão categórica. Aquele momento exigia medidas extremas de julgamento. O zelo de defender a honra de Cristo certamente é uma grande virtude. Às vezes é muito melhor acalorar-se com uma ira zelosa do que sentar-se passivamente e suportar insultos contra Cristo.

Mas graças a Deus que: “As suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras” (Sl 145.9). Ele é “compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade” (Ex 34.6). O exemplo de Jesus ensinou a Tiago e a João que a bondade amorosa e a misericórdia são virtudes a serem cultivadas tanto quanto (e às vezes mais do que) a justa indignação e zelo fervoroso. Observe o que aconteceu. Em vez de pedir fogo do céu, “Seguiram para outra aldeia” (Lc 9.56). Simplesmente encontraram acomodações em outro lugar. Talvez tenha sido um pouco inconveniente, mas naquelas circunstâncias foi melhor e mais apropriado de que a retificação proposta por Tiago e João pela falta de hospitalidade dos samaritanos.

O amor é a maior das virtudes; como disse o Apóstolo Paulo, “sem amor eu nada seria”. Busquemos soluções pacíficas para todas as situações adversas, sem, contudo relativizar o conteúdo da Palavra de Deus e Seus estatutos. Pois,   “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo seu propósito” (Rm 8.28). Devermos clamar pela sabedoria de Deus na tribulação. “Deus é refúgio e socorro nos dias de angústia”. Ele é a causa inicial e final de todas as coisas. Que nos acheguemos a Ele com confiança, pois Ele é fiel às suas promessas.     “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.35-39).

Jesus afirmou que “as portas do inferno não prevalecerão contra sua igreja” (Mt 16.18). “Andemos por fé e não por vista”. “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus” (Fl 4.7). Assim como, “Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33), “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8.18).

Parte do texto extraído do Livro Doze Homens Comuns do PR. John MacArthur Jr., Editora Cultura Cristã.

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