"Todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu o erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade em direção àquele de quem está dito: Buscai sempre a Sua face."

Agostinho de Hipona



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Se Deus existe, é onipotente e é bom, por que existe o mal?

Uma corrente filosófica antiga, com adeptos ainda hoje, denominada Dualismo, preconiza que o bem e o mal existiram sempre e continuarão a se contrapor por toda a eternidade.

O grego Epicuro, no século III a.C., ensinou que os deuses existem mas não interferem na vida dos homens; se o fizessem, os homens não necessitariam buscar a felicidade, pois os deuses a garantiriam. Acrescentou que a presença do mal no mundo é a prova da não ingerência divina nos negócios humanos. Assim pensam também muitos, hoje.

No século XVII o alemão Leibniz publicou um livro – Teodicéia – com o objetivo principal de explicar o problema do mal. O mundo é perfeito (do jeito que está) já que Deus não poderia criar um mundo que fosse aperfeiçoável, caso em que ele teria criado algo malfeito, e aí não seria Deus. Portanto, vivemos no melhor dos mundos possível. Em 1755 um terremoto destruiu Lisboa no dia de finados quando as igrejas estavam lotadas. Voltaire liderou uma revolta contra Deus, aproveitando-se da frase de Leibniz; “se este é o melhor mundo que ele poderia nos dar, imagine-se qual seria o pior. ”

De grande influência nos nossos dias é a formulação do escocês David Hume, no século XVIII: Estaria Deus querendo impedir o mal, sem ser capaz de fazê-lo? Então ele é impotente. Ele é capaz, mas não está disposto? Então ele é mau.

Vejamos na teologia bíblica a solução para o problema do mal.

O texto de Hume configura um sofisma, isto é, um raciocínio falacioso devido à má escolha de suas premissas. Os atributos divinos, conforme revelados nas Escrituras, atuam simultâneos, concordes e harmônicos para o beneplácito de sua criação. Não se poderá compreender o problema do mal refletindo apenas sobre a onipotência e a bondade divinas. Sua onisciência, onipresença, justiça, verdade, sabedoria, e todas as demais características que lhe são inerentes, formam um todo de cuja consideração deflui a compreensão desse problema.

Comecemos pelo fato de que o mal tem origem, não sendo, assim, eterno, como pretende o dualismo. “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu o Senhor, faço todas estas coisas”.(Is 45.7). Considere que o atributo bondade não pode ser afetado por essa disposição, caso em que Deus não seria perfeito. Então a sabedoria nos socorre ensinando que o mal é parte de um plano que trará benefícios, os quais, na doutrina de Paulo, serão muito superiores aos que a mente humana atual pode alcançar.

O homem é um ser em formação. Ele está sendo construído, edificado. “Vós... estais sendo edificados para habitação de Deus...”.(Ef 2.22); “Vós mesmos, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual...” (1 Pe 2.5). O mal é parte necessária desse processo de construção. Esses conceitos de processo, de formação, de edificação em relação ao homem estiveram totalmente ausentes nas preocupações tanto de Leibniz como de Hume, o que lhes fechou as portas da compreensão do problema do mal.

Como funciona o processo? Deus criou o mal e pôs o livre arbítrio no homem. Diante do mal ele escolhe fazer o bem; cada escolha boa que o homem faz representa um tijolo, uma pedra na construção daquele edifício que o Apocalipse denomina Nova Jerusalém. Por ter vencido o mal na terra, o homem será, no mundo vindouro, considerado eternamente um vencedor. “Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono”. (Ap 3.21); “[...] eles, pois, o venceram...” (Ap 12.11); “[...] o Cordeiro os vencerá...; vencerão também os [...] que se acham com ele”. (Ap 17.14); “[...] o vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho”. (Ap 21.7). Note que só se pode vencer quando há resistência, oposição. Portanto, sem a existência temporária do mal, o homem jamais poderia ser aclamado, no mundo vindouro, como vencedor. Por fim essa condição de vencedor colocará o homem numa posição superior aos anjos, que nada venceram, e a toda e qualquer criatura.

No que respeita ao sofrimento do inocente é preciso considerar que, não somente o homem, mas esta terra e o universo inteiro estão corrompidos, estando, por isso, todos nós, adultos, crianças, culpados, inocentes, sujeitos às vicissitudes inerentes a essa condição. Contudo Paulo estabelece uma relação de proporção entre a intensidade dessas tribulações e a glória futura. “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós”. Rn 8.18.

Os dois primeiros versos do Salmo 110 dizem que a Jesus foi conferida a função de reinar sobre o universo, mencionando que ele tem inimigos.

A presença de inimigos está implícita também em Ap 1.6 onde está dito que nós estamos sendo preparados para reinar.

Reinar significa governar, comandar, corrigir, castigar, destruir, e também construir, gerir, administrar.

Jesus foi habilitado para a função de rei porque sofreu, sendo inocente, e venceu ao não fazer a vontade dos inimigos. Agora irá destruí-los.

Notemos que todo esse processo seria inviável, impraticável, se não houvesse sido criado o mal, a causa real de haver inimigos contra Deus.

O mal, portanto, é o resultado de um ato soberano de criação divina, imprescindível para o cumprimento de seu propósito de elevar o homem a uma posição superior a toda criatura, inclusive os anjos.


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